Há menos de 20 anos empresas como Google, Amazon, Facebook, Tencent e Alibaba nem sequer existiam. Hoje elas estão entre as 10 mais valiosas (e inovadoras) do mundo. O que elas e outras empresas como Apple, Microsoft, Uber e Netflix – que vêm revolucionando a nossa forma de viver – tem em comum? Ambas utilizam uma mesma abordagem estratégica: o modelo de plataformas.
Considerada uma construção iniciada a partir dos anos 2000 e com base nos conceitos de revolução digital, inovação aberta e crescimento escalável das startups, o modelo plataforma consiste no movimento que busca criar valor através da facilitação de trocas entre dois ou mais grupos interdependentes com máxima eficiência. Ou seja, têm como objetivo fazer com que vendedores e compradores, escritores e leitores, motoristas e passageiros, viajantes e anfitriões, pesquisadores e empresários, entre outros, se conectem com mais facilidade, atendam suas necessidades de maneira mais rápida e barata, e habilitem uma relação ganha-ganha para ambas as partes e para a própria plataforma.
Recentemente, no evento GovTech Brasil 2018, ficou clara a mensagem de que ou o Governo vira tecnologia ou deixará de cumprir seu papel. E se juntarmos essa constatação do GovTech com a revolução das plataformas? Como isso se aplicaria no apoio à ciência, tecnologia e inovação (C,T&I) onde o Estado possui papel fundamental mesmo nos países mais liberais? Uma resposta bastante interessante seria a transformação da Finep – a Agência Brasileira de Inovação – em uma Agência-Plataforma de apoio a C,T&I. Operando os mais diversos instrumentos de apoio como grants, crédito, apoios não-financeiros e investimentos, assim como atuando praticamente com todos os stakeholders do ecossistema de C,T&I, a Finep possui um posicionamento único para conduzir esta agenda e alavancar essas inovações também para outras áreas estratégicas como saúde, educação, defesa, mobilidade e segurança.
A gestão de C,T&I é complexa e possui dinâmicas e métricas de desempenho bastante específicas. Ao juntar seus instrumentos atuais (e eventualmente novos) com sua larga experiência com universidades, incubadoras, instituições científico-tecnológicas (ICTs), startups, pequenas empresas, grandes corporações, fundos de venture capital, investidores-anjos e outros atores do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (SNCTI), a FINEP poderia atuar como uma rede inteligente que iria muito além dos recursos financeiros para viabilizar projetos estruturantes para o país com o máximo de eficiência.
Claro que um “projeto” deste tamanho é complexo e demandaria um grande esforço de gestão e execução “data driven”, envolvendo as mais avançadas ferramentas de big data analytics e inteligência artificial, além de, obviamente, uma revisão significativa de cultura, processos, normativos e governança. Os benefícios, entretanto, superariam substancialmente estes esforços. Uma configuração de agência-plataforma permitiria ações mais eficazes, mais precisas e com maior impacto como, por exemplo:
Alguns exemplos internacionais como a Vinnova (Suécia), a Innovate UK (Reino Unido) ou as setoriais DARPA (EUA) e ARPE-e (EUA) mostram que uma visão de apoio a C,T&I, ao mesmo tempo focada e integrada, se constituem em um caminho promissor a ser percorrido. Um país continental como o Brasil, com pesquisadores gerando conhecimento científico de ponta, com uma indústria estabelecida e diversificada, com um agronegócio produtivo e inovador e com ecossistema de empreendedorismo e startups em franca expansão não pode permanecer na crise por muito tempo.
Temos os fundamentos. Falta uma organização eficaz desses atores e dos instrumentos de apoio. A união entre destino e desejo para o futuro do país passa por esse modelo. Um modelo apoiado pela Agência-Plataforma de C,T&I brasileira com o intuito de levar o país para o mesmo caminho de liderança alcançado pelas atuais gigantes do mercado, que há 20 anos nem sequer existiam! O sucesso de uma plataforma depende do compromisso e engajamento de todos seus atores/participantes… Vamos construir juntos?